
Eu não uso drogas, não bebo, não sou um viciado em sexo, nunca tive crises depressivas, nunca tentei me matar, nunca tomei remédios para dormir, não trato a vida com indiferença, não sorrio por sorrir, não choro nunca.
Meu corpo parece ser uns cinco anos mais velho do que a idade real, tenho olheiras, insônia, poucos amigos, poucos bens, muitas ideias, muitos livros, tenho um amor, algumas paixões, muita indecisão, algumas indagações, tenho um celular velho, uma flor ao lado da minha cama, tenho um perfume e uma alma.
Escuto rock, por que tem dias que só o rock resolve, escuto MPB, pra poder apreciar, escuto sertanejo pra dançar juntinho, e escuto pagode por falta de opção. Sou eclético de forma justa, e às vezes tão justa que não tem espaço para gostar de mais nada.
Tenho evidências que desfazem muitos clichês, não sou falso, mas não gosto de assustar ninguém com a escuridão radiante que mora em mim.
Nunca pensei em morrer, mas nunca consegui me visualizar daqui a 20 anos, é uma duvidosa certeza de que esse tempo não existe. Como diria o poeta, na verdade não há.
Protejo-me de tudo e de todos, e sempre acabo me ferindo sozinho. Tenho a melancolia de um artista livre dentro de mim. A arte me diz tudo que não preciso saber, mas é tudo que me ajuda a viver. Eu danço sobre as palavras, como se tivessem ritmos, como se fossem meu primeiro idioma.
Pergunto-me, então, pra que o corpo quando o que uso não pesa? , pra que o corpo se a realidade não está nele? , por que do corpo se nem mesmo a dor está nele?
Minha incoerente conclusão concluiu que o corpo é o canal para a alma viver, mesmo tão esquálido. A força da alma precisa se combinar a fraqueza da carne.
Por mais poético, clichê e manjado que seja dizer que a vida é uma arte, eu sempre digo, basta criar sempre... " e se não é pela arte, porque a alma pesando o corpo?"