segunda-feira, 31 de agosto de 2009

As Lágrimas das Nuvens




Já são seis e meia da manhã, o celular desperta e Lucas tem vontade de jogá-lo na parede. Então se levanta e vai tomar banho, a água do chuveiro não aquece o suficiente, escova os dentes, penteia o cabelo, veste-se, calça seus sapatos apressadamente, sai levando sua mochila e vai pegar o ônibus.


Junior, seu cachorro, estava com a pata suja, e ele foi ao trabalho com uma marca de barro em sua calça. Tempo nublado, frio, e a partir daquele momento, chuvoso, o que o fez perceber que seu guarda-chuva de emergência estava quebrado.


O ônibus lotado o faz apertar a mochila e lembrar-se de que esquecera sua pasta com as tarefas do dia.


Após correr por quatro quadras, Lucas entra na escola atrasado e vai à sala. O barulho o deixa sem ação, então simplesmente começa sua aula passando textos no quadro.


Um dos alunos nota a mancha na sua calça e comenta alto para que todos a percebessem. Como um professor inexperiente ele fica sem ação e finge que nada está acontecendo. Troca de turma, e os alunos comemoram o esquecimento do professor, e a prova adiada.


Chega ao fim da manhã, Lucas enfrenta outro ônibus. Chegando em casa, liga o fogão e esquenta o que sobrou da janta na noite passada, o telefone toca para uma cobrança, ele se distrai e deixa o único bife queimar, ainda bem que hoje é dia de pagamento – pensou ele.


O relógio marca 14 horas, e o jovem guerreiro encara mais um bico. Passear com os cachorros da vizinhança era uma tarefa relaxante, mas enlouquecedora em dias de chuva.


Lucas vai ao banco para retirar o salário. Ele esperou cerca de uma hora na fila e recebeu apenas metade do que precisava. Havia sido um mês muito difícil, teve muitas faltas no trabalho e conseqüentemente muitos descontos salariais.


O tempo começou a melhorar, a chuva cessou. Ele entrou em contato com a sogra, as crianças haviam passado a noite lá,pois o carro estragou. Já era hora de buscá-las para realizarem juntos a grande tarefa.


O pai comprou um bolo, e com todo cuidado tomou outro ônibus, graças a Deus o bolo permaneceu intacto. As crianças ficaram eufóricas e alegres em vê-lo, elas já estavam prontas esperando por sua chegada, os meninos passaram gel no cabelo e a menina estava com seu melhor vestido. Lucas chamou um táxi, e partiram para a grande tarefa.


O hospital estava calmo naquele dia. Prepararam o bolo, ascenderam à vela e entraram no quarto cantando parabéns baixinho para a mãe que os aguardava confiante e fraca. Naquele momento todas as suas forças se uniram para dar um sorriso, as crianças leram suas cartas para a aniversariante e o presente foi um belo lenço para cobrir-lhe a falta de cabelos. Lucas deu um beijo com gosto de confiança em sua esposa, seus filhos a abraçaram. O horário de visitas terminara e então gastou seu último dinheiro com o táxi para as crianças voltarem à casa da avó.


Lucas foi embora caminhando, e por sinal uma longa caminhada de reflexão, satisfação, tristeza, e a partir daquele momento chuva.




(João Lucas Cruz Castanho)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A sempre viva...Morte.


Um dia frio, a neve se põe suavemente sobre a grama, as casas estão fechadas e há muito trabalho, passo pela rua e começo a analisar a vida dos humanos. Eles não param um só minuto para perceberem o que estão fazendo, um vento forte sopra do sul, mais trabalho surgindo, nesta semana já andei por quase todo o mundo e ainda não parei de trabalhar, a população diminui e eu tenho de fazer a transição.
Em um desses dias percebo uma jovem, ela é realmente muito bonita, americana e habitante da maior potência mundial, estava em uma viagem ao sul de seu país com o namorado, um relacionamento lindo, porém precisei passar por eles, pobre jovem, teria um futuro brilhante, traída por quem mais a jurava amor, e agora lhe jurou morte.
Estou pensando em chamar alguns ajudantes, há muito trabalho no continente negro. Crianças ansiosas por algo, vejo-as todos os dias lutando por mais um suspiro. Em uma das minhas últimas viagens para lá, tive uma notícia surpreendente: a próxima copa do mundo será lá. Estranhei, pois em todas as minhas passagens via apenas terra seca e gritos de desespero, quando se havia forças para gritar, mas é realmente difícil entender.
Tive uma experiência muito confusa neste último sábado, passei por um hospital, muitas crianças e idosos por lá, pais desesperados, e um menino magro, pálido e com um sorriso, é lamentável, já estava sem cabelo. Seus pais tentavam disfarçar, pois o médico havia conversado com eles há pouco, logo o menino fechou os olhos, e esse havia sido seu último sorriso. Os pais puseram-se a chorar. Saí dali então e fui a São Paulo, onde uma menina acabara de ser jogada pela janela. Seu pai e sua madrasta correram ao seu encontro, mas era tarde, até mesmo para se redimir. Triste fim para uma criança tão pura. É realmente de matar.
Estou exausta, meus dias estão sendo repetitivos, percebo como as cosias estão se tornando simples demais, quando não são. Começo a me assustar com o que vejo, quem diria, eu, a própria morte me assustando. Encontrei seres que praticam atos piores do que exerço em minha função. Posso dizer, os seres humanos me assustam.
(João Lucas Cruz Castanho)