sábado, 8 de maio de 2010

Descanse...

Amor é a essência da vida, e nem na morte se acaba.




Um dia de sol raiava, os pássaros cantavam alegremente, o mato chiava com o dançar dos ventos e se dava o despertar. As crianças levantavam-se animadas para trilhar novamente o caminho da roça, literalmente falando.
- Menina, eu já falei para você não fazer mais isso. Imperava o sotaque português de D. Isaura apontando para uma fresca melancia aberta, cuja carne fora comida a colheradas debaixo de uma agradável árvore. Ali pensava sobre o presente que poderia ganhar no natal.
Como sempre em dia de véspera de Natal, toda a família arranja os preparativos. Velas, toalhas, talheres, mesas bem arrumadas. Na sala os presentes, a árvore de Natal e a expectativa. Por costume abriam-se os presentes apenas antes do almoço do dia 25. Mas como toda criança curiosa, foi ela ver se encontrava uma dica sobre qual seria seu presente. Muitos amontoados estavam lá, pois eram em muitos irmãos.
Era uma menina dedicada aos estudos. Na escola que havia na fazenda sempre dava o máximo de atenção. E como boa aluna, gostava muito de ler. E justamente, havia um presente em forma de livro. Isso a chamou muito a atenção. Cruzou os dedos e pediu para que esse fosse o seu. Saiu correndo, juntando-se aos outros, disfarçando a espionagem proibida.
Deu-se a noite de Natal, todos oraram juntos antes de se alimentarem. Ansiosos para receber logo seus presentes. Já tarde da noite, após, como de costume, cantar os parabéns para Jesus, as crianças dirigiram-se para suas camas. Mal podiam esperar para abrir o pacote e se deliciar com a surpresa.
A noite até pareceu alongar-se, cochichavam entre si sobre os presentes. O nascer do sol fora leve naquele dia, por isso não despertara a todos logo cedo. Então perto das 8h alguns foram acordando e acordando aos outros. Correram unidos para a sala, logo os pais anunciavam o nome e entregavam o presente. Lourdes estava novamente com os dedos cruzados. Quando o presente da vez era o venerado pacote em forma de livro ela apertou os olhos, e para sua satisfação ouviu seu nome. Levantou-se alegremente e correu para pega-lo.
Um belo exemplar. “Alice no Paiz das Maravilhas” Lewis Carroll. Seus olhos brilhavam, e não via a hora de poder lê-lo. Passou-se o dia e no seguinte, a menina se preparava para ler. Pegou o livro, uma colher, para o caso de encontrar uma melancia pelo caminho e muita disposição.
Sentou-se sob as densas folhagens de uma bela árvore, no alto de um morro, perto de casa, de onde podia ver o lago com gansos e marrecos, as vacas pastando, a grande plantação de café e o sol, sempre sorrindo.
Abriu-se a primeira página, e viu ali a seguinte dedicatória: “ Este livro pertence a Maria de Lourdes Barradas. Presente do Papai Noel 25/12/1940.”
Alice a acompanhou por todos os dias de suas férias escolares. Intercalando com o trabalho que auxiliava. Logo no início do ano letivo, a professora pediu para que os alunos contassem como foram suas férias. Alegremente Lourdes escreveu sobre sua companheira Alice.
Logo, em meio a Segunda Guerra Mundial, o céu ora azul, agora se apresentava cinza, mesmo longe do conflito, podia-se ver a evidência. Assustou-se ao tentar, mas não enxergar o sorriso do sol.
Bem, o tempo passou, Lourdes e Alice continuaram juntas. A infância passou, as melancias passaram, os Natais se passaram, os presentes se foram, mas Alice está agora a fazer companhia a outros. E Lourdes, se formou, e como uma boa aluna, deixou a escola.


João Lucas Cruz Castanho

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